É interessante pensar como passamos as
nossas vidas. Os valores que interpretamos ao longo de nossas
jornadas, são tão enigmáticos e incoerentes, que ao final da
equação, viver foi em vão.
Nascemos em berços modestos. Cada um
de uma maneira diferente. Mas todos nós, no mesmo ambiente, na mesma
realidade.
No minuto que acordamos para a vida
fora do útero, o bombardeio de informações dúbias, já nos é
atirado. A pressão não dá trégua desde o primeiro dia de vida,
com o filho da puta do médico, metendo um tapa na sua bunda para
obrigá-lo a chorar. E por aí vai.
Após a tarjeta de apresentação ser
preenchida pelos pais, passamos a ter um nome para responder a
maldita sorte de estarmos vivos. Maldita sorte sim, pois temos que
pagar por tudo para todos, e viver o resto das nossas vidas assim,
alugando o espaço que não escolhemos preencher. É imposto para
isso, dinheiro para aquilo, se você não paga no começo, os seus
pais estão pagando pela cagada de tê-los colocado nesta vida. O
milagre saiu pela culatra, basicamente.
Bom, o pagamento por ter nascido esta
rolando e o tempo passando, e ai vem a escola. Entramos na aula já
aprendendo a temer as notas, o julgamento no final do mês. E a
pressão aumenta! Escapamos daqui e ali, fazemos peripécias para
sorrirmos. Para nos sentirmos vivos. Para compreender este lado que
pressiona a vida, sem termos escolhido estar vivos. O tempo passa e
as notas voam, e então, chega a pressão do relacionamento.
O corpo sente tesão, então o homem e
a mulher tem que se aproximar. Faz parte da fisiologia, é natural,
mas aí que as coisas complicam, pois agora, algum outro safado e
condenado, inventou que eu tenho melhores chances de achar o meu par,
se algo valioso eu possuir. Podemos negar, podemos desmentir, mas no
final o jogo é atrair o sexo oposto. E assim criamos os valores da
posse para aumentar as chances da conquista. Neste exato instante que
conectamos o SEXO com a POSSE, o subconsciente começa a trabalhar
pesado em busca da satisfação. Sabemos agora o que nos dá prazer e
sabemos também como comprar o melhor prazer. E corremos a vida a
agregar, a acumular, e consequentemente, a sofrer.
A ilusão criada que se perpetua pela
própria necessidade intrínseca do corpo, lhe torna um obcecado pela
conquista. Objetivado para o poder. Afinal, mais poder, mais prazer.
Agora, com o tempo que passou, adultos
no tornamos. Mais leis nos são colocadas com orientação implícita
dos desejos que nos fora bombardeados na nossa juventude. Moral e
ética foram introduzidos para apaziguar os nossos demônios e, dia
sim, e outro também, desafiados a serem quebrados para dominarmos
estes desejos enlatados.
Se você não tenta quebrar a regra,
você não vencerá nunca, pois o sistema foi criado para nunca
alcançarmos o que buscamos, pois o que buscamos, NÃO EXISTE em
primeiro lugar.
É então, nesta vida louca que o
SIMPLES passa a ser utopia. Pessoas imaginam como é viver sem estas
loucuras que nos são forçadas no dia a dia. Com estas parafernálias
que não servem para nada. Tudo é necessário, mas nada presta, nada
enche, nada agrada. O sexo que antes era prioridade, vem com tanta
responsabilidade que só a posse, passa a ser encarada. Pessoas,
agora, são só detalhes.
E continuamos envelhecendo, vivendo
tentando ter. Tentando ser. Tentando algo que nos dê real prazer.
Querer alguém, é claro que queremos, mas se tudo é tão complicado
e tão caro, e se tudo acaba em valores, melhor viver só, assim a
conta fica menor.
E agora? E depois? Como ficarão as
coisas? Devemos nos preocupar em mudar, ser diferentes do que é
normal? Se tentarmos, poderemos ficar para trás, contra a maré dos
zumbis racionais. Sei lá. O jeito é viver e aprender, jogar pra
frente alguma lambança.
Pois é, depois dessa loucura de meia
vida passada, a outra metade não parece promissora, mas seremos
justos... alguns momentos nos fazem brilhar e nos fazem flutuar de
tanta alegria. Talvez seja este o motivo para as tantas dificuldades,
talvez seja esta a forma de apreciarmos pequenos detalhes de uma vida
sofrida. Pensar assim também não dói, e até alivia as vezes. Quem
sabe amanhã será um dia feliz para nos fazer sorrir?
Envelhecendo mais e mais, passamos a
outra metade da vida, e agora tentando inverter a nossa realidade.
Tapar os buracos dos erros passados, simplificando até o momento da
ingenuidade, da brincadeira de criança, da puberdade. E quando a
velhice chega finalmente, não ligamos mais para nada, e a vida
passada passa a ser uma história mal contada, com ênfase nas
vírgulas, porque a história é chata e ultrapassada.
E, ao final, morremos sem nada, da
mesma maneira que viemos, como um ciclo que não acaba.
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